16 de outubro de 2007

lágrim(ud)as.

a planta, muda e calada. miúda.
que ela sente? que ela quer? que ela precisa? que ela quer dizer?
muda e calada, não diz. não responde. demonstra.

chega o outono, caem suas folhas, caem sua flores. inverno... tão apática, sombria e nua. primavera! exultante primavera... alegre e viva, ela renasce. mas, no verão, a seca e o calor... sufocada.

ouve-se um reclamar? não. tudo passa. ela sofre, revive e morre... muda e calada. não diz, demonstra.
nunca se ouviu um "preciso de água, água-me" dela. seu estado já conta tudo. folhas murchas e caídas são um "água-me" sussurrado, mudo e calado.

não se pode envolver uma planta. ela te sufoca, ela se sufoca. e não adianta implorar-lhe por flores ou frutos. ela não os dará se não for tempo e se não for bem cuidada. não é possível controlar, e não adianta cobrar.

delicadeza. um vento forte pode levá-la, uma tempestade pode derrubá-la. mas não pense escutar que ela te chama. muda e calada, ela sofre. e confia em seus espinhos.
ela não diz se está triste. ela não diz se está feliz. ela demonstra. seja com galhos secos, seja com flores coloridas. muda e calada.

cabe a ti prender sua atenção nela. cuide, ame, e ouça suas demonstrações mudas, caladas. ouça o que não é dito. descubra o que ela não diz. um sussurro manhoso e mudo, uma voz morta que ecoa dentro dela mesma, mas não se exalta pra fora, mantem-se calada.
planta não fala. ouça o que ela diz.

-má.

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