24 de outubro de 2007

na beira.


ela vê aquele poço, cheio de água. calor, a água é convidativa. parece refrescante.
mas... é um poço tão raso. ela já pode ver seu fim, seu fundo. pedregulhos e solidão.
ah, ela não deveria mergulhar, pular de cabeça... não deveria, mas... a água parece tão boa e fresca! agrada-lhe a idéia de mergulhar. ela o quer tanto. mergulhar e deixar-se enlear pela água. não importa que no fim ela tenha uma contusão. ou importa? será esse o medo? medo de se machucar e manchar a água tão pura com seu sangue irresponsável? medo de perder tanto a água quanto a vida.

- má.

só(lo).

uma grande terra, tu conquistastes. mais do que uma vez poderias ter pensado.
roubastes a terra que deveria pertencer ao seu oponente, vitorioso... não? manteve com muito cuidado, mesmo com o inimigo por cima. plantou e colheu. mas depois... abandonastes antes de completar a colheita. por quê? por que motivo se conquista para depois deixar aos grilos?
é certo que tinhas roubado, mas depois.. poderias conquistar com honra. não se desiste assim, depois de tão longe. mas tu... desististes. e hoje, em que terra estás? sua velha terra continua no lugar, porém sozinha e abandonada. só peço que tenhas cuidado e preste atenção. talvez venha alguém para conquistá-la ou tu a perca para os grilos.
se não quiserdes, que dê de presente! não brigue mais por terrenos que um dia largará. mas se quiserdes... não deixe que os grilos acabem por completo com o que resta da sua plantação. pois ainda há remanescentes do que uma vez plantastes.


- má.

16 de outubro de 2007

lágrim(ud)as.

a planta, muda e calada. miúda.
que ela sente? que ela quer? que ela precisa? que ela quer dizer?
muda e calada, não diz. não responde. demonstra.

chega o outono, caem suas folhas, caem sua flores. inverno... tão apática, sombria e nua. primavera! exultante primavera... alegre e viva, ela renasce. mas, no verão, a seca e o calor... sufocada.

ouve-se um reclamar? não. tudo passa. ela sofre, revive e morre... muda e calada. não diz, demonstra.
nunca se ouviu um "preciso de água, água-me" dela. seu estado já conta tudo. folhas murchas e caídas são um "água-me" sussurrado, mudo e calado.

não se pode envolver uma planta. ela te sufoca, ela se sufoca. e não adianta implorar-lhe por flores ou frutos. ela não os dará se não for tempo e se não for bem cuidada. não é possível controlar, e não adianta cobrar.

delicadeza. um vento forte pode levá-la, uma tempestade pode derrubá-la. mas não pense escutar que ela te chama. muda e calada, ela sofre. e confia em seus espinhos.
ela não diz se está triste. ela não diz se está feliz. ela demonstra. seja com galhos secos, seja com flores coloridas. muda e calada.

cabe a ti prender sua atenção nela. cuide, ame, e ouça suas demonstrações mudas, caladas. ouça o que não é dito. descubra o que ela não diz. um sussurro manhoso e mudo, uma voz morta que ecoa dentro dela mesma, mas não se exalta pra fora, mantem-se calada.
planta não fala. ouça o que ela diz.

-má.

15 de outubro de 2007

foi-se?

há muito tempo, ouviam-se os pássaros a cantar. ouviam-se os anjos a cantar. ouvia-se a natureza e tudo que há a cantar. onde está esse som? onde está a melodia? para onde se foram as notas? se perderam... fugiram das pautas. só existe um intervalo intenso e comprido de uma breve tão duradoura.
e quem há de resgatar sua musicalidade?...


- má

12 de outubro de 2007

aperte o play!



don't you wake up yet
give me some time
to watch you asleep
oh angel of mine
and I will be fine
as long as your near me
oh angel of mine

but tomorrow if a golden train came to take you away
would you go or would you stay?

here in this cozy room just me and you
oh cuddling and kissing
making sweet love
shooting star wishing and watch the sun come up
and then we'll sleep all day
meet in out dreams and live life our way
drop it all off and we'll fly away
dip through the stars and wake up slowly

oh one thing I know fore sure
is my love for you is deeper than any root or stone
mamma told me so
don't walk the streets alone

- golden train lyrics de justin nozuka



algumas músicas do justin nozuka. caraca, esse cara é o máximo de bom. amo! escute aí :)
-má.

11 de outubro de 2007

cada instante.



quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: eu te amo.

ouvindo-te dizer: eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
no momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

exijo de ti o perene comunicado.
não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

no momento em que não me dizes:
eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

se não me disseres urgente repetido
eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.


- quero de carlos drummond de andrade

10 de outubro de 2007

favorite.




aperte o play!
relient k é a melhor banda do mundo inteiro.
e tenho dito!

-má.

9 de outubro de 2007

minuciosidade.


não quero que digas que choveu.

"ontem choveu.", não.



conte-me das sementes que brotaram, das flores que abriram, dos frutos que caíram, da terra fofa e molhada, do barro, da lama encharcada, dos rios e fios de água que cruzam a terra marcada.
conte-me do brilho da chuva e frescor de sua brisa.



mas se continuardes assim, enforco-te e enterro.






-má.

4 de outubro de 2007

já!

você já parou pra pensar que estamos pensando a cada segundo? a cada milésimo de segundo milhares de mil coisas passam por sua mente. você pensa em trilhares de coisas (ou mais?) em apenas um minuto.
quantas coisas você pensou hoje? um número maior do que o das estrelas? por quantas galáxias do seu cérebro você viajou hoje? quais os buracos negros da memória que você explorou?
você se lembra qual foi a primeira coisa que passou em sua mente quando você acordou? e qual será a última coisa que lhe passará pela mente ao dormir?
o que você pensou nos minutos que gastou lendo minhas palavras? o que você realmente está pensando agora, exatamente agora? é difícil responder com certeza já que em menos que um piscar de olhos... o que estava pensando mesmo?
-má.

envelope recheado.

quem é você? (...)
não era um tanto quanto esquisito ela não saber quem era? e também não era uma injustiça o fato de ela mesma não poder determinar sua aparência? isto simplesmente lhe tinha sido imposto ao nascer. seus amigos, estes sim ela talvez pudesse escolher, mas não tinha a chance de escolher-se a si própria. não tinha sequer decidido ser uma pessoa.
o que era uma pessoa? (...)
não era extraordinário estar viva naquele momento e ser personagem de uma aventura maravilhosa como a vida? (...)
depois de pensar um pouco sobre o fato de existir, sofia não pode deixar de pensar também que um dia desapareceria. (...)
estou vivendo no mundo agora, pensou. mas um dia terei desaparecido. cismada, sofia parou um instante no passeio de saibro. tentou concentrar todo seu pensamento no fato de existir, a fim de esquecer que um dia deixaria de existir. mas não conseguia. no mesmo instante em que se concentrava no fato de existir, pensava também que um dia morreria. e o mesmo ocorria ao contrário: só quando sentiu intensamente que um dia desapareceria é que pôde entender exatamente o quanto a vida era infinitamente valiosa. (!) e quanto maior e mais clara era uma face da moeda, tanto maior e mais clara se tornava a outra. vida e morte eram dois lados de uma mesma coisa.
não se pode experimentar a sensação de existir sem se experimentar a certeza que se tem de morrer, pensou. e é igualmente impossível pensar que se tem de morrer se pensar ao mesmo tempo em como a vida é fantástica.
sofia lembrou-se de que sua avó dissera algo semelhante no dia em que soube de sua doença. - só agora entendo o quanto a vida é rica - foram suas palavras.
não era triste que a maioria das pessoas tivesse primeiro que ficar doente para só então entender o quanto a vida é bela? ou então que tivessem de encontrar uma carta misteriosa na caixa de correio?

- o mundo de sofia de jostein gaarder. (enfases minhas)




p.s.: verifique sua caixa de correio :)